Maria Rita Matos, os livros e as leituras de uma booktoker que estuda Comunicação Organizacional
Maria Rita Matos é aluna da licenciatura em Comunicação Organizacional e booktoker (booklover.rtq), o mesmo será dizer que é influencer de leituras, ou criadora de conteúdos literários ou até divulgadora literária. Com mais de 20 mil seguidores no TikTok, Maria Rita faz parte de uma nova comunidade que regularmente faz recomendações de leitura e incentiva uma nova geração de jovens leitores. Romances, fantasias e thrillers são os géneros que mais gosta de ler, mas apesar de “gerir estudos, vida pessoal, leitura e redes sociais” não ser tarefa fácil, ainda consegue ler entre quatro a cinco livros por mês.
Qual a tua relação com os livros?
A leitura começou a fazer parte da minha vida quando era pequena, ia recebendo vários livros e lendo-os, mas ao longo dos anos o gosto foi-se perdendo.
Apareceu novamente no verão do 9º ano para o 10º ano, descobri os romances jovem adulto, e fui ficando interessada em alguns, lembro-me que foi a primeira vez que li um livro com mais de 400 páginas em 24h! Após essas férias fui lendo alguns livros, mas acho que nem chegava a um por mês.
Chegando a pandemia isso mudou novamente! Começaram-me a aparecer vídeos no TikTok de criadores de conteúdo literário, comecei a seguir alguns e cada vez me apareciam mais vídeos sobre livros na for you. Decidi comprar um dos livros que no momento estava viral na aplicação, o primeiro da coleção Percy Jackson, e despertou-me novamente o bichinho por ler! Comprei os restantes da coleção e mais alguns livros que ia vendo por lá. Ter uma amiga que também adorava ler ajudou, pois íamos falando sobre as nossas leituras, que livros tínhamos interesse, o que tínhamos gostado ou não em x livro…
Quando começaste a partilhar a tua opinião sobre leituras?
Em fevereiro de 2021. Como disse, já seguia alguns criadores de conteúdo literário no TikTok, mas nunca tinha visto ninguém português a fazer esse tipo de conteúdo na aplicação, então, depois de muito tempo a pensar, e debater o assunto com essa minha amiga que também adorava ler, decidi “porque não?” e criei a conta!
Queria mostrar o que estava a ler, o que tinha lido, que livros queria ler a seguir, os meus preferidos, a minha estante, saber também o que as outras pessoas liam… entrar dentro ou criar uma comunidade, visto que não havia ou quase não havia portugueses neste nicho do TikTok, fui uma das primeiras.
No início nem aparecia nos vídeos, por vergonha, mas acabei por a ir perdendo e começar a fazer vídeos mesmo a falar e não apenas com músicas. Talvez isso também tenha acontecido por querer expressar melhor a minha opinião sobre as minhas leituras e não apenas mostrá-los, pois recebia mensagens a pedirem reviews, a pedirem para falar de x coleção, onde comprava os livros…
De que modo os conteúdos que crias incentivam à leitura?
É uma boa pergunta, acho que depende muito do estilo de vídeo, do tempo, do que é mostrado sobre o livro e até da capa do livro, e claro da pessoa que o está a ver.
Mas, acho que o que funciona melhor atualmente são vídeos curtos, só a dar a entender do que o livro fala, de que género é… as informações mais importantes para o público que me estou a dirigir (um público mais jovem, dos 12 anos aos 30 anos, que consome conteúdo rápido, mas sei que também sou acompanhada por algumas pessoas mais velhas).
Acho que o TikTok também veio mostrar que a leitura não é algo chato, como acabamos por achar na escola. Há imensos livros, para todos os gostos e todas as idades! Gosto de tentar mostrar um pouco de tudo na minha conta, mas sei que vou sempre incidir mais nos romances, fantasias… e agora thrillers, pois são os géneros que mais gosto de ler.
Tento mostrar de várias maneiras, até porque o que hoje pode resultar, amanhã já não resulta. É uma rede social que vive de trends, e como tal o género de vídeos mais vistos vai mudando, isso também é assim no nicho dos livros. Temos de estar sempre atentos ao que está “na berra” no estrangeiro, perceber que vídeos estão a resultar noutros países e trazer para cá também.
Consideras que o curso de Comunicação Organizacional tem sido importante para a tua atividade como criadora de conteúdos?
Em pequenas coisas, como tentar perceber o mercado e as pessoas que me seguem no TikTok. Que livros querem ver, que géneros consomem mais, o que anda a vender… acho que antes de entrar no curso já pensava nisto, mas atualmente penso de forma mais metódica. Também sinto que ligado a isto possa ter ajudado em algumas campanhas publicitárias que realizei.
Mesmo assim, agora com algumas cadeiras do segundo ano é que poderá começar a ser mais importante, tanto para a minha conta como para a conta que giro da editora Grupo Infinito Particular.
Tem sido fácil conciliares os estudos com as leituras e publicações?
Nem sempre. No ano passado acabei muitas vezes por ter semanas que não lia nada por andar com imensos trabalhos e/ou frequências.
Acho que este ano (para além do 12º ano e do meu primeiro ano de faculdade, noutro curso) é o ano em que tenho conseguido gerir melhor as minhas leituras e publicações! No meu dia livre ou ao fim de semana tento gravar alguns vídeos para deixar prontos para ir publicando durante a semana. As leituras tento que aconteçam em tempos que apanho livres durante o dia ou à noite.
Mas nem sempre é fácil, nunca consegui ser uma pessoa muito organizada, que consegue gerir estudos, vida pessoal, leitura e redes sociais, às vezes torna-se impossível e tendo a deixar algo para o lado.
Por exemplo, já houve algumas vezes em que tive de recusar alguns livros de parcerias por saber que não iria ter tempo para os ler. Normalmente tenho parcerias flexíveis, em que me enviam um livros e posso ler quando tiver tempo, mas há vezes em que dão um período de tempo para cumprir.
Sei que agora tenho conseguido gerir bem, mas nas últimas semanas do semestre se conseguir ler um livro e publicar pelo menos três vídeos por semana fico feliz.
Quantos livros lês por mês? Sabes quantos livros já leste desde que és influenciadora digital/booktoker?
Atualmente por mês tem rondado os quatro/cinco livros, que ao pé de várias pessoas do meio não é muito, mas fico feliz por esta média, pois no verão, apesar de não ter estudos para quebrarem as minhas leituras, não consegui ler tanto como queria!
Não consigo saber muito bem quantos livros li desde que iniciei a conta em fevereiro de 2021, mas penso que possa ultrapassar os 150 livros.
Quais os teus escritores preferidos?
Não consigo dizer que tenho escritores preferidos, porque “quantos livros temos de ler até sabermos que é aquele escritor/escritora?” “gosto apenas dos livros ou gosto também do escritor em si?” (porque sim, há imensos escritores que escrevem livros incríveis, mas depois como pessoas não se mostram tão incríveis como os seus livros).
Assim, posso e consigo dizer que adoro os livros da Alice Kellen (são romances novo adulto que me dizem algo, especialmente o título “O Rapaz que Desenhava Constelações”, no final consigo dizer que aprendi algo com o livro, que não o vou conseguir esquecer tão facilmente).
Adorei o “Beartown” do Fredrick Backman, quer dizer, não só adorei como é o meu livro preferido! E acho que ao ler mais do autor, este sim pode-se tornar o meu autor preferido, o seu género literário costuma ser o “sobre pessoas”. Neste livro, “Beartown”, ficamos a conhecer uma cidade que está a ponto de ser esquecida, a sua última esperança esta no jovem clube de hóquei no gelo (algo que tinha posto a cidade no mapa há muitos anos, mas que com a queda do clube, veio também a queda da cidade). Mas acaba por não ser apenas a luta dos jogadores de hóquei, dá-nos a conhecer os habitantes daquela pequena cidade, como convivem, como vivem e comunidade… são pessoas com o urso dentro delas. Sei que os outros livros do escritor também passam por isto, falar de pessoas, e acho que vou adorar.
Indo para nomes portugueses, no inico da minha conta no TikTok uma autora portuguesa, Helena Magalhães, quis-me oferecer um livro, “Raparigas Como Nós”. Foi o meu primeiro recebido, e se calhar por isso também possa ter ajudado a eu gostar tanto do livro, mas gosto de pensar que não. Pois, adorei a escrita, adorei a maneira como me fez lembrar dos primeiros anos do secundário e a maneira como o livro me tocou.
Mencionando outros livros e correspondentes escritores que adorei, não posso deixar de fazer menção a “Como Se Fossemos Vilões” de M. L. Rio, um livro de mistério excecional sobre alunos que andam numa escola de teatro e que apresentam peças de William Shakespeare, o final é qualquer coisa de espetacular, triste e intrigante, deixou-me a pensar nele durante dias. A trilogia de Legend, de Marie Lu, que nos leva para um mundo distópico. E claro, os livros que me deram o clique para voltar a ler mais e querer iniciar a conta, a coleção de Percy Jackson de Rick Riordan, uma coleção sobre deuses gregos e os seus filhos.