Embora o conceito de transgressão tenha tido aprofundamentos muito peculiares por G. Bataille no quadro do pensamento do erotismo, por M. Foucault nas suas reflexões sobre a sexualidade e na teoria psicanalítica através de J. Lacan (retomados depois por outros filósofos), esses desenvolvimentos não o esgotam, nem no seu sentido, nem no seu alcance. É possível pensar o jogo entre limites e transgressões noutros contextos e enquadramentos, sem negar alguma possível contaminação pelo pensamento daqueles autores, tanto ao nível da especulação filosófica e dos seus cruzamentos transdisciplinares, como ao nível de práticas concretas, quer sociais, quer artísticas. Pode até dizer-se que a transgressão é suscetível de ser vista como um fantasma da liberdade, se entendermos a palavra fantasma a partir do seu significado etimológico, phantasmata, ou seja, produto da atividade da fantasia ou da imaginação. São esses fantasmas da liberdade sob a forma de transgressões que este ciclo de exercícios de reflexão partilhada pretende convocar, com o contributo articulado dos saberes teóricos e reflexivos e das práticas criativas mobilizadas. O programa será constituído por oito sessões de conversa (uma por semana) com vários transgressores convidados a testemunhar as suas provocações intelectuais e artísticas através de uma autorreflexão acerca das suas práticas.