Impacto da pandemia na sociedade – Gastronomia – Opinião de Adília Cabral

A Gastronomia e  Covid-19 – antes e o depois

 

Quando em fevereiro de 2020, numa reunião da RIPTUR, realizada numa instituição de ensino superior Politécnico do nosso país, afirmei que um dos problemas que achava mais urgente de ultrapassar, era a Formação de Recursos Humanos no setor da Gastronomia e do Turismo, que dessem resposta não só a uma procura em crescendo, a mercados com opções e gostos diferenciados onde os dois setores de atividade se afirmam como cruciais, fi-lo com uma convicção profunda.

Se o Turismo desde há muito se vinha revelando como um dos setores de atividade com maior peso e dinamismo no contributo para o PIB português, a Gastronomia acompanhava a mesma tendência, renovando-se, diversificando-se e, sobretudo, evoluía positivamente ao conciliar tradição com modernidade, diversidade com exclusividade, saúde com inovação.

Os prémios atribuídos aos grandes Chefs portugueses, a abertura de restaurantes de estilos e formatos cada vez mais progressistas e arrojados, as feiras gastronómicas que proliferavam pelo país em diferentes épocas do ano, dando a conhecer os produtos característicos de cada uma das regiões, os programas e concursos lançados pelos media, tudo, mas mesmo tudo, fazia ressaltar este tesouro patrimonial que renascia em cada dia, a Gastronomia.

Eis que tudo o que se descreve atrás passa a ter um novo sentido quando, face à pandemia provocada pela Covid-19, a restauração e hotelaria foram forçadas a encerrar, os clientes habituais a confinarem-se em suas casas, os negócios ligados à produção e distribuição alimentar a ter que se renovar, o país a ter que se transfigurar. Tudo passou a ter de ser entendido de outra forma e, aquela Gastronomia que se vinha a assumir como um produto charneira em alguns destinos turísticos, desempenhando um papel relevante na promoção do destino Portugal, sinónimo de uma marca identitária regional e nacional, não escapou a esta (re)conversão. Com perdas? Muitas, sem dúvida. Tantas que só o tempo e a história nos permitirão avaliar e reescrever.

Porém, e no que à Gastronomia diz respeito bem como aos seus artífices muito se fez em prol duma oferta que se quis manter autêntica, de qualidade e adaptada ás contingências impostas pelo sucessivos confinamentos. O tempo de adaptação foi curto, mas os estabelecimentos precisaram de novas ações para se manter no mercado de entre as quais destacamos as seguintes:

– adaptação ao delivery e reforço de take-away;

– nova logística de trabalhadores no setor;

– novos menus, de diferentes preços e paladares;

– novos tipos de exigências alimentares (gastronomia quotidiana e gastronomia gourmet)

– novas formas de empacotamento e de conservação;

– incremento de menus tradicionais onde os produtos locais e regionais se assumiram centrais na procura.

Com o objetivo de abordar a Gastronomia no mundo, através dos impactos económicos causado pela situação pandémica, das novas estratégias e valorização dos produtos locais, de uma possível transformação motivada por diferentes hábitos alimentares, pela necessidade de serem criados novos protocolos sanitários e de saúde global, que garantam uma maior segurança alimentar, os estudantes da Licenciatura de Gastronomia estão pois confrontados com importantes desafios na era pós-Covid. A aposta numa formação de qualidade continua a ser, pois, o grande desafio a que em fevereiro de 2020 me referi.

Adília Cabral, Diretora da licenciatura em Gastronomia